A culinária brasileira tem sua riqueza na diversidade, incorporando alimentos de tradição africana, indígena e europeia. Com o objetivo de compartilhar a cultura afro-brasileira e usar a gastronomia como símbolo de identidade, Priscila Novaes criou o restaurante Kitanda das Minas, em São Paulo (SP).
“A Kitanda tem um conceito e formato que reflete a minha trajetória pessoal como mulher preta e periférica, que enfrenta questões ligadas ao desenvolvimento econômico, ao racismo, machismo e lutas sociais”, explica Novaes.
O interesse dela pela gastronomia surgiu ainda na juventude. Trabalhando na área de telemarketing, Novaes percebeu uma oportunidade de utilizar a culinária como uma forma de complementar a renda, sem muitas ambições. “Comecei a empreender por necessidade para encontrar uma atividade que trouxesse satisfação, fugindo daquilo que o mercado de trabalho estava impondo.” Nessa época, ela começou a ganhar dinheiro vendendo salgados e bolos para familiares e amigos.
Segundo Novaes, suas primeiras produções profissionais ligadas à gastronomia foram por meio do coletivo. Tempos depois, em 2017, ela fundou a Kitanda. “O coletivo foi onde eu percebi que a gastronomia poderia virar um negócio. Hoje, as Mulheres de Orì ainda existem, mas são um serviço de consultoria que a Kitanda oferece para o debate da cultura alimentar afro”, afirma Novaes.
Como estratégia de negócio, a Kitanda nasceu como um serviço de afro buffet voltado para eventos corporativos. Depois, foi expandindo e oferecendo outras opções de serviços. De acordo com Novaes, uma das influências para o negócio foi o papel das quitandeiras, vendedoras ambulantes típicas de Angola. “Eu me identifiquei com essas mulheres que são quitandeiras, a Kitanda das Minas carrega esse nome por causa dessa referência.”
Para montar o cardápio, além de pesquisas sobre as raízes africanas, ela teve contato direto com a cultura alimentar do marido angolano. “Quando eu fui para Angola, eu pude vivenciar de perto a alimentação e a cultura alimentar africana. Eu não fiquei em lugares turísticos ou hotéis, mas dentro da casa de uma família angolana, vivenciando esses hábitos alimentares acontecendo no dia a dia”, diz Novaes.
Atualmente, a Kitanda está localizada na Casa PretaHub, na região central de São Paulo (SP), e oferece pratos típicos de origem africana, como acarajé, dadinho de tapioca e moqueca baiana. “O cardápio da Kitanda contempla não só a gastronomia afro-brasileira, mas a africana também. Sendo uma mulher preta que nasceu no Brasil, a gente tem a ruptura com as nossas origens. Então, eu fico sempre procurando pistas daquilo que mais me identifico a respeito da culinária africana, encontrando semelhanças com a nossa.” O preço médio das refeições varia de R$ 20 a R$ 50. Já os preços dos serviços de buffet variam conforme o tamanho do evento e a quantidade de pessoas.
Outro programa oferecido é o Afro Chef, que busca capacitar mulheres negras com técnicas gastronômicas. “O Afro Chef tem três pilares, trabalhando com empreendedorismo, técnicas culinárias e formação política para raça e gênero com foco em mulheres negras que buscam seguir carreira gastronômica”, relata Novaes. Para fomentar esses projetos, a Kitanda mantém parcerias com a Fundação Tide Setubal e o Instituto Socioambiental (ISA).
De olho no futuro, Novaes pretende inaugurar outros restaurantes. Outra expectativa é aumentar o número de mulheres formadas no Afro Chef e de periferias atendidas no Quilombo das Quebradas.
Fonte: revistapegn.globo.com